11 de out. de 2014

Minha desorganizada biblioteca e meus confusos pensamentos


Novo semestre e eu começo a busca pelos vários livros e referências de que irei precisar. É surpreendente que eu não consiga ter uma exata noção do que possuo. Meus livros, como minhas ideias, estão espalhados em estantes, sem qualquer tipo de ordenamento. Vivo dizendo a mim mesmo que irei arrumá-los, cataloga-los, porque, afinal, não faz sentido comprar um livro duas vezes porque esquecemos que o possuímos, embora isso seja uma constante em minha vida e alguns amigos já se beneficiaram dessa minha fraqueza, alguns mais de uma vez.
Minhas ideias também se ressentem de organização. Meus pensamentos vivem dispersos em um universo interno que, apesar de parecer bastante caótico, mantem-se miraculosamente íntegro, ainda que espalhados. Assim, a desorganização é espacial, fazendo com que eu em minha atávica preguiça deixe de concatenar ideias para os meus textos pelo simples fato de que seria muito cansativo buscar na mente todos os pensamentos necessários à execução do ato de escrever. Penso que o espaço da mente deveria ser bem restrito, assim, bem pequeno, para que fosse possível concentrar em um só lugar tudo aquilo de que necessitamos para o dia-a-dia intelectual.


Voltando aos livros, vivo sendo gratamente surpreendido por (re)descobrir que possuo títulos que, tivesse eu a necessária disciplina para lê-los nos momentos-chave da minha vida acadêmica, teriam sido extremamente úteis e contribuído para uma inestimável valorização dos meus trabalhos para a faculdade. Normalmente só me lembro deles quando estou buscando outros, para outras matérias e, invariavelmente, quando já não me são mais imediatamente úteis...
Caso eu tivesse lido diligentemente todos os livros importantes e interessantes que ocupam lugares diversos nas minhas estantes, eu já teria não só terminado a faculdade, mas o teria feito com louvor e apreciação elevada de meus conhecimentos. Nessa hora me parece oportuna a justificativa de que a minha falta de orgulho ou necessidade de manter a vaidade em xeque não me permitiu levar esse projeto a cabo e que minha desorganização, mental e bibliográfica, é um mecanismo para me manter com os dois pés no chão e me lembrar constantemente da posição de humildade a que devo me submeter, pois a ascensão intelectual poderia ter efeito extremamente deletério sobre a minha condição humana.
Já vi tantas vezes pobres mortais confundirem ascese com arrogância, profundidade de conhecimento com necessidade de soberba, com a vaidade tão extremada que se colocam na posição (frágil e passageira) de serem "melhores que os outros". Não quero essa condição. Tenho medo desse lugar em que o conhecimento se torna arma, em que a excessiva autoconfiança se torna autocondescendência e oblitera invariavelmente a nossa capacidade de enxergar o outro. Infelizmente, parece-me ser bastante fácil cair nessa armadilha.

11 de jul. de 2012

Imagens de homens sarados perturbam os garotos


Traduzido do site Teaching Tolerance (texto original em inglês)

Minhas alunas do oitavo ano gritavam ao ver as fotos de um astro de cinema sem camisa em uma revista. "Uau! Olha o tanquinho desse aqui!"

"Só", respondeu outra garota. "E olha essa foto do Taylor Lautner. De rosto ele não é lá essas coisas, mas quem liga! Olha esse músculos!"

Esse é um diálogo típico na minha sala de aula durante o almoço ou antes das aulas da manhã. Lembro que, quando eu era adolescente, ficava folheando revistas de moda e de celebridades, olhando as modelos femininas com pernas longilíneas, pele luminosa e cabelos perfeitos. Elas representavam o que eu deveria ser. Sabendo o quão distante eu estava de me parecer com elas definitivamente me fazia me sentir feia. Mas as revistas também me diziam que tipo de cara eu tinha que achar atraente. Aparentemente não houve muita mudança na cultura adolescente popular.

Quando as garotas conversam desse jeito, os meninos na minha sala ficam muito quietos. Alguns olham para o chão ou para outro lado. Nenhum deles, que eu saiba, tem "tanquinho" ou músculos bombados. Às vezes ouço-os comparando tamanhos de músculos, dando duro para provar que seus bíceps são os maiores e eles tiram sarro uns dos outros por serem muito baixos ou muito magros.

Só recentemente me dei conta do quanto os meninos se preocupam com essas coisas. Será que a expectativa cultural de que eles se tornem "homens fortes, masculinos" os faz sentirem-se inferiores, pouco atraentes e sem valor? Até eu me tornar professora, o que me propiciou ouvir as conversas confidenciais entre garotos adolescentes, eu achava que só as garotas se sentiam inferiores às pessoas lindas que elas viam nas revistas e nos filmes.

Por séculos as sociedades projetaram expectativas físicas específicas tanto sobre homens quanto sobre mulheres. Existe um padrão duplo na discussão da imagem corporal e dotes musculares nas escolas. Seria totalmente inapropriado discutir as partes do corpo feminino de forma similar. Se meus alunos trouxessem um catálogo da Victoria`s Secret para a escola e começassem a fazer comentários em voz alta sobre as modelos, as garotas os repreenderiam.

Mostrei essa dicotomia aos meus alunos, mas as garotas insistiam que isso era diferente. Quando eu pressionei-as para que dessem uma explicação elas foram incapazes de fornecer uma. Elas alegavam que esse tipo de conversa é inofensivo. Mas vendo como os comentários delas afetavan os garotos eu não estava tão certa disso. Além disso, esse tipo de comentário faz com que minhas alunas pareçam vazias; isso passa a mensagem de que o que uma garota quer em um parceiro não é inteligência, gentileza e senso de humor, mas um corpo bem esculpido.

Isso acaba se reduzindo ao fato de que qualquer tipo de objetificação pode ser danosa e negar aquilo que torna uma pessoa um indivíduo. Assim, pedi para que não se falasse mais de tanquinhos na minha sala. Embora tenham protestado um pouco no início, as garotas respeitaram o argumento por trás do meu pedido. Elas entenderam que é doloroso ser julgado exclusivamente pelo visual. Eu quero promover um ambiente em que garotos possam se sentir confiantes, valorizados e importantes - independentemente do tônus muscular.

Anderson é professora do ensino médio e de estudos interdisciplinares no Oregon.

6 de jul. de 2012

Os Jogos Olímpicos devem ser abolidos?


Um anacronismo saturado, espalhafatoso e superestimado.

por DAVID MACARAY

Os primeiros Jogos Olímpicos modernos, já com o COI (Comitê Olímpico Internacional) comandando o show, aconteceram em Atenas, Grécia, em 1896. Havia 14 nações representadas, com um total de 241 atletas competindo. Vamos avançar 112 anos, para as Olimpíadas de 2008 em Beijing, China, em que havia 204 países representados e cerca de 11 mil atletas competindo.

Essa referência a 204 países me confunde. Confesso que achava que existiam somente 196 países em todo o mundo, sem contar o Vaticano (mas incluindo o Sudão do Sul, que se tornou um país independente em 9 de julho de 2011).  De fato, aludi ao número 196 muitas vezes, tanto em conversas quanto em material escrito, e ninguém nunca me questionou. [Neste link, informações sobre o controverso número de países existentes (em inglês)]

Mesmo se o Vaticano tivesse, de alguma forma, aprovação do COI e recebesse permissão para competir em Beijing (enviando, talvez, uma equipe de revezamento composta por cardeais e bispos), ainda assim o número chegaria somente a 197 países. Embora estejamos bem conscientes da fama da capacidade inventiva da China, como eles conseguiram chegar a 204 países ainda é algo obscuro. Estou certo de que há uma explicação perfeitamente plausível para isso.

Deixando os números de lado, vamos analisar os Jogos propriamente ditos. O objetivo das Olimpíadas, originalmente, era promover a boa vontade e a harmonia através da competição esportiva. Retire a política e os interesses próprios, removam os preconceitos e as barreiras sociais, deixem de lado as tretas e histórias contraditórias, e permita-se que as nações do mundo criem o tipo de respeito e compreensão mútuos que só podem ser produzidos através de competições de puro atletismo.

Obviamente esse nobre objetivo não foi atingido até hoje. Na verdade, um cínico pode até sugerir que funcionou ao contrário. Desde 1896 aconteceram duas Guerra Mundiais monumentais, bombas atômicas, vários genocídios, pogroms (perseguições étnicas) e aniquilamentos sistemáticos, dúzias de guerras “menores”, bem como centenas de exemplos de aventureirismos militares e carnificinas.

Pode-se até mesmo defender a tese de que o século que se seguiu às Olimpíadas inaugurais de 1896 foi o mais violento de toda a história do mundo. Então, se a paz e a boa vontade eram os objetivos desejados, as Olimpíadas fracassaram completamente. Na verdade, ela nos leva a questionar se essa noção de que o “encontro nas grandes pistas” funcionar como catalisador para a paz mundial não era incrivelmente ingênua, para começar.

Geograficamente, muita coisa mudou. Enquanto as Olimpíadas podem ter feito sentido quando se levava duas ou três semanas para cruzar o Atlântico, as viagens a jato e o cyberespaço se combinaram para encolher o mundo de forma dramática.  Qualquer um que queira contatar um estrangeiro só precisa ligar o computador. A internet é tão mágica que você pode se transportar para uma cultura estrangeira com apenas alguns toques no teclado (e com mais alguns, ter acesso à pornografia que ela produz).

E existe o dinheiro. Virtualmente todo país que sediou uma Olimpíada contraiu dívidas debilitantes. O custo de promover uma dessas coisas é positivamente surpreendente. E aquele velho e batido argumento de que o país que sedia a olimpíada adquire “prestígio” imediato é pura propaganda, e aqueles que afirmam que os Jogos “ajudam” a economia local não são apenas enganadores, mas piadistas cruéis.

Hotéis, bares, restaurantes e serviços de taxi se beneficiam, mas o resto da população é deixado na penúria. O The New York Times informa que na preparação para os Jogos de 2016 a cidade do Rio de Janeiro irá arrasar várias favelas, desalojando milhares de pessoas, entre as mais pobres da população, tudo pelo bem do aumento do “prestígio” nacional.

Falando em dinheiro, a rede NBC gastou toneladas. Não apenas eles anunciaram o pagamento de 2 bilhões de dólares pelos direitos de transmissão dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2010 e pelos Jogos de Londres em 2012, mas segundo divulgado pagaram 4,4 bilhões de dólares pelas próximas quatro Olimpíadas – os Jogos de Inverno de 2014, os Jogos do Rio de Janeiro em 2016, os Jogos de Inverno em 2018 e os Jogos de Verão de 2020. Claro que o resultado de tamanho gasto será uma verdadeira avalanche de comerciais de TV. De que outra forma vocês acham que uma rede recebe o dinheiro de volta?

As Olimpíadas se tornaram um anacronismo saturado, espalhafatoso e superestimado. Aqueles que reclamam que sentiriam falta dos jogos devem ser lembrados que eles podem assistir a encontros de atletismo, de natação e de luta Greco-romana quando quiserem nas escolas e faculdades locais. Mas esses eventos, normalmente, tem plateias diminutas. Por quê? Porque sem a falsa badalação e alarido das Olimpíadas, ninguém liga para eles.

DAVID MACARAY, dramaturgo e escritor de Los Angeles, EUA (“It’s Never Been Easy:  Essays on Modern Labor” – Nunca Foi Fácil: Ensaios sobre Trabalho Moderno). Colaborou em “Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion” (Desesperançado: Barack Obama e as Políticas de Ilusão), publicado pela AK Press. “Desesperançado” também está disponível em edição para a Kindle. Você pode entrar em contato com ele em dmacaray@earthlink.net

Fonte:  CounterPunch (em inglês)

4 de mai. de 2012

A vida sob constante vigilância

Este é um artigo que eu traduzi do site CounterPunch (link no fim do artigo) e que, apesar de falar especificamente sobre a questão da perda de privacidade nos EUA, acho que tem muito a ver com a sociedade atual em todo o mundo e que serve de alerta ao que está acontecendo hoje em um mundo que parece caminhar cada vez mais rapidamente para estados ditatoriais e opressores em pleno século XXI. Precisamos urgentemente de um novo "século das luzes" (mas sem sua parte ruim).
Os erros de tradução são de minha inteira responsabilidade, mas aceito correções, numa boa.

 O estado de vigilância se expande. Desde de 11/9 nossos telefones estão sujeitos a grampos sem autorização. Nossos emails e transações na internet deixam rastros para outros seguirem. A polícia pode acessar nossas informações de localização de GPS através de nossos smartphones, sem mandato. Varejistas gravam detalhes de nossos hábitos de consumo meticulosamente. Aparentemente, a [empresa] Target estuda esses hábitos para determinar quando as clientes estão grávidas –do segundo trimestre em diante- para campanhas de marketing específicas. 


E agora teremos os equipamentos de vigilância teleguiados (drones, em inglês). O congresso aprovou recentemente uma lei que abre as portas para o uso indiscriminado de drones em solo americano. Tem havido pouca cobertura [da mídia] sobre esse desdobramento alarmante: drones, até então associados à nossa guerra ilegal no Paquistão e no Iêmen, logo se tornarão algo doméstico. Em nosso solo eles serão usados na aplicação da lei e proteção de fronteiras, mas também serão usados comercialmente, para objetivos imobiliários, de entretenimento e jornalísticos, por exemplo. Um drone notório exibido na internet possui formato de beija-flor. Como o nome, drone beija-flor, sugere, ele é pequeno, rápido e possui grande mobilidade. Um vídeo popular mostra o drone beija-flor entrando em um edifício e voando por um corredor, transmitindo tudo que vê. Imagine as possibilidades. 
Qual é o efeito de toda essa perda de privacidade? Como ela altera nosso comportamento? Porque ela com certeza nos modifica; nos comportamos de maneiras diferentes quando estamos sozinhos ou quando nos observam. Como será nossa vida pessoal quando mais e mais desses drones se tornarem públicos?


Em seu livro “Vigiar e Punir”, o filósofo francês Michel Foucault argumenta que a vigilância constante tem efeito devastador. É uma forma sutil de opressão. Quando nos sentimos observados temos mais consciência de nosso comportamento, com mais probabilidade de observar o que fazemos e nos moldarmos àquilo que achamos que nossos vigias querem ou esperam de nós. Os falcões entre nós dizem que isso é uma coisa boa: se você não estiver fazendo nada de errado, o que terá a temer de um drone beija-flor? Mas não é tão simples assim.


Foucault sustenta que a vigilância constante pode ser um tipo de tortura – uma revelação posta em prática ainda no século 19 pelos arquitetos de prisões. Também é ideal para governos autoritários, já que essa é uma forma altamente eficiente de poder: a autoridade não precisa coagir os indivíduos fisicamente a se comportar de determinada maneira; a vigilância insere o olho da autoridade no coração do indivíduo e este monitora a si mesmo. A vigilância dá ao poder o anonimato, diz Foucault, o que é especialmente devastador. Não sabemos exatamente porque estamos sendo observados, ou o que esperam de nós e, essencialmente, cultivamos um tipo de paranoia inata em que nos sentimos inseguros e tímidos em relação a tudo o que fazemos.


Além disso, Foucault sugere que a vigilância que está largamente estabelecida na sociedade reduz a resistência à evidente opressão política, porque a torna menos resistente à violação de nossos direitos.


Esse pensamento me ocorreu em seguida à decisão recente da Suprema Corte, por 5 a 4, de manter o direito de oficiais de prisões realizarem “strip-searches” (revistas em que as pessoas ficam nuas) em qualquer um que entre em uma prisão, não importando a gravidade do crime. No caso em questão, um homem sofreu uma ‘strip-search’ depois de ter sido preso por não ter pago um multa; sua prisão foi errônea – ele já havia pago a multa. A Suprema Corte defendeu o direito de despi-lo apesar disso. Isso claramente solapa nossa acalentada noção de inocência presumida, e agride gravemente a nossa dignidade pessoal. Mas essas irritantes invasões de privacidade e desprezo pela dignidade pessoal tornam-se cada vez mais aceitáveis quando já estamos acostumados a elas de forma mais ampla – o tempo todo, de formas sutis.


O problema politico de toda essa vigilância é óbvio, se nos preocupássemos em admiti-lo. As autoridades políticas têm muito mais acesso aos detalhes de nossas vidas e, em mãos erradas, poderiam causar um dano real. A única coisa que nos protege é o caráter daqueles que tem o poder de coletar toda essa informação – e jurar que não farão nada condenável com ela. Em relação á nova Lei de Autorização de Defesa Nacional, que sancionou o poder do presidente de deter indefinidamente ou mesmo assassinar cidadãos americanos suspeitos de envolvimento com organizações terroristas, Obama tentou acalmar os medos argumentando que sua administração será criteriosa no exercício desse poder. E quanto às administrações seguintes? Nossos pais fundadores tiveram a grande preocupação de desenhar um governo que fosse impermeável à corrupção pelas falhas de caráter dos detentores de cargos públicos. A Guerra ao Terror tem gradualmente nos tornado mais vulneráveis a elas.


O que talvez seja mais notável em tudo isso é como estamos absolutamente tranquilos com esse crescente estado de vigilância. De fato, mergulhamos precipitadamente nessas novas tecnologias que permitem que sejamos observados. A ACLU (American Civil Liberties Union) é uma voz gritando no deserto sobre as ameaças aos direitos civis, mas estamos muito ocupados comprando online, dividindo detalhes de nossa vida pessoal no Facebook, tuitando nossas revelações mais mundanas. 
Quando levanto essas preocupações com meus alunos, alguns as consideram excessivamente alarmistas. Outros permanecem inabaláveis. Pressionei-os a esse respeito recentemente, e um aluno observou que ele tinha 10 anos quando a Lei Patriota foi implantada em seguida aos ataques de 11/9. Eles também passaram metade de suas vidas usando internet, email e smartphones e não conheciam nada além disso. Em suma, a vigilância, para eles, é a norma.


E, até o momento, eles só conheceram uma vigilância benevolente ou, no mínimo, inócua. Isso significa que eles confiam nos poderes que sabem tanto sobre eles e que poderiam fazer muitas coisas com esse conhecimento? Quando faço essa pergunta, a resposta é quase unanimemente negativa. Eles confiam muito pouco nos partidos governistas – e essa é uma visão partilhada por pessoas em todo o espectro político. Então o que está acontecendo? Por que entregamos tanta informação – e, essencialmente, poder – a autoridades nas quais confiamos tão pouco?


Existe uma variedade de fatores em ação aqui. Por um lado, pode-se argumentar, somos apenas preguiçosos, ou muito apaixonados por novas tecnologias, para nos preocuparmos com quem está nos observando, e por que. Alternativamente, como aponta a socióloga Juliet Schor, da Universidade de Boston, somos uma sociedade que sofre cada vez mais de ‘pobreza de tempo’: trabalhamos longas horas, viajamos longas distâncias de casa para o trabalho, carregamos nossos filhos para inúmeras atividades e, em nosso frenesi, passamos a confiar nas múltiplas conveniências oferecidas pela nova tecnologia que nos ajuda em nossas agendas frenéticas. Em geral essas novas mídias estão tão integradas às nossas vidas que simplesmente não conseguimos nos imaginar vivendo sem elas. Elas nos acostumaram a níveis de conveniência que nunca tivemos antes – uma conveniência diretamente proporcional à quantidade de informação pessoal que entregamos.


Subjacente a isso tudo, entretanto, há algo sobre o qual tenho pensado há algum tempo. Como sociedade, perdemos a visão do significado da privacidade, e isso é essencial à liberdade – e à democracia. Abrimos mão de nossa privacidade de bom grado acreditando que nossa felicidade permanece intocada no processo. Efetivamente, em uma Guerra ao Terror, renunciar à nossa privacidade parece um sacrifício fácil, especialmente quando se recebe as extraordinárias conveniências das novas mídias em troca. Mas liberdade sem privacidade, nos diz Foucault, não é liberdade.


Quanto mais somos observados, argumenta, menos livres nos sentimos para sermos indivíduos únicos, peculiares, às vezes excêntricos. A vigilância exerce uma pressão velada. Sob constante vigilância estamos mais propensos à conformidade, menos sujeitos a fazer perguntas sociais irritantes que podem chamar atenção para nós e aborrecer alguém – quem? Ficamos menos inclinados a desenvolver nossas próprias ideias e opiniões, elaborá-las em nossa mente, com nossas palavras, testá-las em público – e nos atermos a elas. Nos tornamos mais cuidadosos, menos propensos a aproveitar oportunidades e nos envolvermos em comportamentos de risco. Mas a democracia requer um individualismo criativo, independente, sem medo.


Não há como parar o desenvolvimento tecnológico, um progresso que se tornou assustadoramente rápido na era digital. Entretanto, isso em si mesmo não é desculpa para aceitar uma aviltante profusão de drones beija-flores em nossas ruas e nossa vizinhança. Os drones de vigilância chegarão, com certeza, mas devemos, por sua vez, observá-los – e aos que observam através deles. Isso começa quando nos lembramos que a privacidade é um bem essencial, um direito inalienável e não-negociável, como os autores de nossa Constituição – em uma época muito distante de nossas tecnologias – uma vez entenderam muito bem.

Firmin DeBrabander, Professor Associado de Filosofia, Maryland Institute College of Art, Baltimore, EUA
Fonte: CounterPunch

19 de abr. de 2012

O poder da indústria pornográfica

O poder da indústria pornográfica

A chocante suspensão da Dra. Price
por GAIL DINES

À medida que as faculdades se tornam mais corporativas ouvimos cada vez mais histórias de acadêmicos sendo punidos por ter a audácia de falar contra a maleficência corporativa. Isso não só limita a liberdade de expressão dos acadêmicos, mas também serve para, através do medo, forçar os professores a aderir ao discurso hegemônico.

O exemplo mais recente é chocante. Jammie Price, professora titular da Appalachian State University, foi suspense no mês passado por exibir o documentário “The Price of Pleasure: Pornography, Sexuality and Relationships” (O Preço do Prazer: Pornografia, Sexualidade e Relacionamentos). Distribuída pela Media Education Foundation, uma das mais respeitadas produtoras de documentários progressistas no país, o filme pretende ver como a pornografia tradicional (“mainstream”) não só tem se tornado mais violenta e misógina, mas verdadeiramente se deita na mesma cama das maiores instituições financeiras como empresas de cartão de crédito, investidores em capitais de risco, empresas a cabo e hotéis (que ganham mais dinheiro com pornografia do que com consumo de minibares).

Após mostrar o filme a 120 alunos, três deles, claro, queixaram-se à administração da universidade alegando que a Dra Price estava exibindo “material impróprio” na sala. Não foi permitido à Dra Price saber quem eram os estudantes ou conversar com eles, foi-lhe negada uma audiência e foi imediatamente suspensa e informada de que não poderia entrar nos gabinetes ou salas de aula nas dependências do prédio de Artes e Ciências. Caso quisesse obter “materiais, arquivos de computador, recolher correspondência...” teria que ser escoltada por um membro da faculdade.

Que interessante que uma universidade decida que uma análise acadêmica de uma das indústrias mais lucrativas do mundo seja “imprópria”. O que exatamente esperam que ensinemos? Talvez se Jammie Price lecionasse em uma escola de negócios e mostrasse um caso sobre como matar no pornô ela poderia ter se safado. Ou, talvez, por segurança, a Dra Price deveria ter convidado um pornógrafo para promover seus produtos. Em 2008 a imprensa pornográfica ficou alvoroçada com a grande notícia que Joanna Angel, proprietária do site pornô Burning Angel, havia sido convidada para falar a uma turma de alunos de sexualidade humana na Universidade de Indiana. Não houve tentativa, por parte do site de notícias pornô X Critic, de fingir que esse seria um evento educacional quando escreveram: “Ela irá mostrar aos alunos clipes de seus filmes, distribuir brinquedos eróticos e iluminá-los com uma visão positiva da pornografia”.

Eu escrevi uma carta de reclamação ao presidente da Universidade de Indiana salientando que o papel de uma sala de aula de uma universidade era educar os alunos, não fornecer uma plateia cativa para os capitalistas empurrarem seus produtos. O escritório do presidente respondeu de maneira muito esquisita. Eles pediram ao professor que se desculpasse comigo por convidar Joanna Angel, como se tudo isso fosse um insulto pessoal. Acho que devemos falar sobre a pornografia na sala de aula, mas não como uma indústria divertida que vende fantasias, mas como uma indústria global que trabalha como qualquer outra indústria, com planos de negócios, nichos de mercado, investidores e a necessidade cada vez maior de maximizar lucros.

Parece-me que o crime de Price foi fornecer uma crítica progressista da indústria pornográfica, em vez de incensar liricamente como a pornografia dá, sexualmente, poder às mulheres. Ela mostrou um filme que lança um olhar inflexível sobre a verdadeira indústria pornográfica. Em lugar de dizer que o pornô nos dá poder, O Preço do Prazer se aprofunda nos podres da indústria, ilustrando suas ideias com imagens retiradas de alguns dos mais populares sites pornográficos. Essas imagens não são bonitas, nem muito eróticas. Vemos mulheres sendo sufocadas por pênis, cobertas de esperma, sendo esbofeteadas e cuspidas, e em uma cena particularmente horrível,uma mulher vomitando após ter lambido um pênis que havia acabado de ser introduzido em seu ânus (chamado Ass to Mouth na indústria – prefiro não traduzir, mas dá para entender).

Nunca ouvi falar de um acadêmico ser suspenso por falar sobre ou exibir pornografia. Isso não é mesmo uma surpresa porque a tendência na academia é evitar falar sobre a verdadeira indústria e como ela interage com o capitalismo mainstream. Em recente conferência acadêmica da qual participei em Londres, me vi cercada de acadêmicos pós-modernos que poderiam se beneficiar de uma boa dose de economia política. A sessão plenária era composta por acadêmicos argumentando que “ela” não existe, referindo-se à indústria pornô, porque há tantos produtores de pornografia e tantos tipos de pornografia na internet que seria impossível apontar uma verdadeira indústria. O interessante é que, enquanto “ela” não existe, existem, de fato, feiras de negócios pornô, sites de negócios pornô, empresas de relações públicas pornô, grupos de lobby pornô e assim por diante. Todas essas coisas sugerem que existe de fato um negócio pornô.

O fracasso na perda de visão sobre como a indústria funciona foi percebida pelos próprios pornógrafos. Andrew Edmond, Presidente e CEO da Flying Crocodile, uma empresa de pornografia na internet de 20 milhões de dólares, explicou à Brandweek que “muitas pessoas [fora do entretenimento adulto] têm sua atenção desviada do modelo de negócio pelo [sexo]. É tão sofisticado e multifacetado como qualquer outro mercado. Operamos da mesma forma que qualquer empresa listada na Fortune 500 (Brandweek, October, 2000, 41, 1Q48). Jammie Price não teve sua atenção desviada pelo sexo, e por isso pagou caro.


GAIL DINES é professor de sociologia e estudos da mulher na Wheelock College em Boston. Seu ultimo livro é “Pornland: How Porn Has Hijacked our Sexuality” (Beacon Press) (Pornolândia: como a pornografia sequestrou nossa sexualidade). Ela é membro-fundadora da Stop Porn Culture (stoppornculture.org).

Traduzido (às pressas, mas com o auxílio luxuoso de Lola Aronovich) do material publicado neste site: Counterpunch

16 de jan. de 2012

Diário de Viagem - Rennes e Mt Saint Michel

Depois de termos embarcado no TGV em Montparnasse, chegamos a Rennes. Philippe nos esperava e ainda tivemos a chance de ver rapidamente, a jóia que é Rennes. A cidade é linda, limpa, com pessoas muito simpáticas, equipamentos culturais ótimos, arquitetura moderna que não "briga" com a tradicional, muita história e uma excelente culinária. Aqui vão algumas fotos.

Ainda na Torre de Montparnasse.

Parlamento de Rennes

Uma escultura interessante

Crepe Suzette (a verdadeira), flambando no
Grand Marnier

Um comedouro para pássaros no jardim da casa

As casas no Centro de Reabilitação em que Philippe
trabalha; as residências fazem parte do pacote.

A vista dos fundos das casas.

O viajante se preparando para a caminhada

O centro de reabilitação

Parque no centro de Rennes

Biblioteca (enorme) e centro cultural

Salas de cinema

Pontos de ônibus

Entrada da estação de metrô. Cada estação foi
idealizada por um arquiteto diferente.

Sala de concertos para shows

A cidade de Rennes...


O prédio do mercad



O interior do mercado

Azulejos cerâmicos criados pela família Odorico - italianos que migraram para Rennes
no século XIX e que fizeram a reputação da família como as peças mais originais
e representativas da cidade.

São produtores locais que comercializam seus produtos e que mantêm
uma tradição antiquíssima de comércio da produção da região.

Charcuterie (embutidos)


Gibier (ver abaixo)

Carne de caça

Padaria e confeitaria

Em uma das avenidas principais o governo da cidade decidiu colocar
essas estantes com plantas - muitas de flores - e em princípio as pessoas achavam
que eram para vender e tentavam tirar os vasos para comprar...

Cuidado com o patrimônio

Um cantinho que deve ser gostoso no verão

Uma loja de sapateiro - tradição



Igreja de Rennes (uma das várias)

Lá, como no Brasil, quem dirige esses veículos é um "velhinho"'

Cookies

Este local, que hoje tem barzinhos e restaurantes descolados, era a prisão

A arquitetura típica da cidade é o "pan en bois" (pano de madeira), que
ainda permanece em alguns locais

Elas estão por todo lado e em diversas cores

Não disse?

A feira de sábado e a parte da cidade antiga que sobrou do incêndio (Rennes pegou fogo
no século XVIII e foi reconstruída já da forma mais moderna, pois o pan en bois incendiava-se
com facilidade.




Contestações e panfletagem...

O café e as frutas da feira









Um pátio particular; uma moradora nos deixou entrar para
fotografar...




Uma das ruazinhas charmosas de Rennes.

Espero conseguir colocar o restante das fotos da viagem a Rennes e ao Monte Saint Michel até o fim desta semana, pois ainda tenho que baixar as da neve em Mijoux e as do lago Leman em Genebra (sim! nós fomos até Genebra!).

Hoje fiquei sabendo que já tenho uma noite de hotel reservada em Firenze para o próximo sábado. Saímos de Paris na sexta e chegamos em Reggio na própria sexta. Acordamos cedo, vamos para Firenze e dormimos lá uma noite, voltando no domingo para Reggio.

Até breve, com novas postagens.