21 de out. de 2009

Palpiteiro infeliz

Foi um dia muito corrido, cheio de problemas e insatisfações, como de costume. Mas a gente aguenta, porque as contas precisam ser pagas. No intervalo do almoço, enquanto ainda sobre um tempo (comer rápido tem muitas desvantagens, mas a vantagem de poder usufruir de uns minutinhos para ler coisas na internet não relacionadas ao trabalho às vezes compensa), dou uma lida rápida nas chamadas de alguns blogs que acompanho e em matérias da chamada "grande mídia" escrita - no caso um jornal de grande circulação em São Paulo. Entro em um link que fala sobre um seriado da Globo chamado "Norma", estrelado por Denise Fraga.

A articulista defende a inteligência do programa diante da notícia de que o mesmo foi retirado da grade (ia ao ar após o fatídico Fantástico) por perder feio no Ibope para programas estúpidos de outras emissoras. Um nota curta e muito bem escrita. O que me chamou atenção foram os comentários em relação à nota. Tinha "de um tudo", desde ofensas à capacidade da atriz, à estrutura da Rede Globo etc. até a desqualificação do público que deixa de assistir ao seriado para assistir à programação empobrecedora de espíritos das outras emissoras.

Algumas opiniões (ou melhor seria dizer ataques) que diminuíam ou desconsideravam a capacidade intelectual das classes C, D e E, supostamente, então, feitos por alguém da classe B ou A - que deveria ter critério, educação e capacidade intelectual para redigir um bom texto - eram tão mal escritos que fiquei me perguntando se essas pessoas têm algum senso de auto-crítica ou se realmente sua soberba as torna tão cegas de si mesmas a ponto de ignorar o que dizem. Porque só um ignorante, sentido estrito, consegue dizer aquelas barbáries sem se tocar das bobagens que estão perpetrando. Além do teor preconceituoso e desinformado das opiniões, há verdadeiros achaques à língua.

Aí, mais uma vez, penso que preciso dar o meu palpite infeliz. Será que não seria hora de entendermos - todos nós, sociedade brasileira - que todos os problemas sociais que sofremos, em todos os extremos cardeais de nosso país, decorrem exatamente da falta de uma educação de qualidade? Uma educação que de fato ensine as crianças não só a ler mas a refletir sobre a sua leitura, a pensar criticamente desde o início, valorizando sua compreensão do mundo e seu caráter mutável? Que as ajude a compreender seu papel social, político, histórico no mundo? Porque educação de qualidade é algo que fará bem a todas as classes, tanto àquelas que, tendo podido pagar por uma boa educação, continuam se expressando mal em comentários feitos nos jornais eletrônicos (e em várias outras instâncias da vida pública e privada), quanto àquelas em que seus membros, desde cedo alijados de seus direitos por uma política branca e mesquinha, não conseguem chegar a aprender a escrever por falta de opções (de escolas, educadores, políticas corretas de ensino etc).

Até quando colocaremos a culpa nos outros e, refestelados em nossa "zona de conforto" (como diria um cínico professor de uma grande universidade de São Paulo), continuaremos ignorando todo o contexto social enquanto isso nos favorecer a nós particularmente? Quando iremos aprender a, de fato, pensar coletivamente - o que não quer dizer como um rebanho? Pensar coletivamente é pensar no que pode beneficiar não apenas uma minoria (seja ela qual for), mas a maioria. É pensar em divergir, mas respeitando a opinião e as crenças do indivíduo. É pensar que aquilo que for feito agora terá repercussão no futuro e que não importa se os resultados não serão vistos por nós, que realizamos nossos atos agora, mas pelas gerações que estão no porvir, que estão na possibilidade de vir a existir. Que mundo queremos para nós? Melhor, certamente, com mais oportunidades, mais igualdades, mais respeito e dignidade. Quanto fazemos para que esses sejam bens inerentes à todos? Muito pouco, ou mesmo nada. Enxergamos nossos benefícios imediatos, não importa se eles representam malefícios futuros.

O homem, infelizmente, não aprende com o próprio homem. Ao contrário, vai esquecendo sistematicamente as lições. Como pensar em passar algo adiante?

Essa postagem fica incompleta. Volto ao tema depois.

3 comentários:

  1. Algumas palavras...
    O fata é...
    "pensar o leitor não como um sujeito desarraigado de sua condição de classe, que encontra na leitura uma forma de redenção individual, mas sim como um ato coletivo e social, como ação política. Numa sociedade como a nossa, onde se assiste à reprodução eterna das crises e à naturalização da tragédia e da barbárie, a presença de leitores críticos é uma necessidade imediata do(sic)modo que os processos de leitura e os processos de ensino da leitura possam estar vinculados a um projeto de transformação social.”
    De Ezequiel Theodoro da Silva

    Será que um dia isso poderá acontecer?
    Acho que seria a única saída para comentários infelizes não?
    beijos

    ResponderExcluir
  2. Pode se, como eu digo no texto, houver de fato interesse em se estabelecer uma política de ensino honesta, abrangente e que seja capaz de sobrepujar os interesses setoriais para realizar a utopia do coletivo, no presente, mas muito mais importante, com a garantia de continuidade no futuro, ainda que seja necessário (e sempre será) fazer alterações, revisões, adaptações etc.
    Mudanças coletivas, entretanto, dependem de mudanças individuais. Mas é tão difícil sair da "zona de conforto"...

    ResponderExcluir
  3. Ou será a zona na qual nossos dirigentes
    se enconttram?
    E olha que eu não falo da "zona de conforto'.
    Pensando bem ... será?
    beijos

    ResponderExcluir