23 de out. de 2009

Da falta de educação de quem fala ao celular

O aparelho celular tornou-se, infelizmente, a grande "praga social" do início do século 21. Não há onde se esteja livre dele e de seu toque insidioso nos momentos menos desejados. Até mesmo no cinema o aparelhinho cisma de surgir nas horas impróprias.

Fico espantado com a maneira como as pessoas se deseducaram a partir do momento em que contrairam a praga. Já detectei diversos tipos:

1) Os que falam no celular como se o aparelho não existisse e o interlocutor estivesse do outro lado do estádio de futebol: aos berros! Ou então alto o suficiente para que todos no ambiente possam saber do que se trata a sua conversa (que, definitivamente, não interessa a ninguém). Aqui no trabalho temos uma pessoa que ocasionalmente nos visita e nos brinda com sua voz irritante ao atender o celular e fazer questão de que saibamos que ela o está utilizando. Uma tática que já usamos foi falar bem alto ao lado dela, para ver se ela se toca e baixa a voz, mas não adianta. A intrusora quando muito sai para o corredor (para nosso alívio de qualquer forma). O mesmo acontece em transporte público e muitas vezes ficamos sabendo das mentiras que as pessoas contam para o chefe, para a esposa, para o marido, para a namorada etc. É um desfile de segredos que as pessoas não conseguem ter a discrição de ocultar.

2) Os que deixam ligados (apesar dos avisos) e, o que é pior, atendem quando tocam, seus celulares dentro do cinema. E, em lugar de despachar o interlocutor o mais rápido possível, fazem questão de dar a ficha técnica do filme que estão assistindo e em que cinema! Quando já se passou pelo menos meia hora de filme! E, apesar de ouvirem o celular, não ouvem os muitos pedidos de silêncio de quem gostaria de assistir ao filme em silêncio, como todo espectador civilizado de cinema deve fazer (mas espectador de cinema civilizado é espécie em extinção).

3) Os que usam celular enquanto dirigem. Esses são uma praga. O duro é que nem as multas resolvem. Já cansei de ver motoristas mal-educados que não sinalizam que vão fazer uma curva, simplesmente porque já estão ocupando demais os dois neurônios funcionais que têm atendendo o maldito e tentando manter a direção. Atrapalham tanto quem vem atrás quanto os pedestres que querem atravessar e contam com a sinalização do motorista para saber se pode fazê-lo com segurança. Esses mereciam ter suas habilitações cassadas imediatamente.

Claro que existem outros, mas listei aqui aqueles que encontro mais frequentemente. Acho difícil ser tolerante com gente mal-educada. E portadores de celular parecem ter um talento especial para a falta de educação...

É isso... mais um palpite infeliz de um palpiteiro felicíssimo.

21 de out. de 2009

Palpiteiro infeliz

Foi um dia muito corrido, cheio de problemas e insatisfações, como de costume. Mas a gente aguenta, porque as contas precisam ser pagas. No intervalo do almoço, enquanto ainda sobre um tempo (comer rápido tem muitas desvantagens, mas a vantagem de poder usufruir de uns minutinhos para ler coisas na internet não relacionadas ao trabalho às vezes compensa), dou uma lida rápida nas chamadas de alguns blogs que acompanho e em matérias da chamada "grande mídia" escrita - no caso um jornal de grande circulação em São Paulo. Entro em um link que fala sobre um seriado da Globo chamado "Norma", estrelado por Denise Fraga.

A articulista defende a inteligência do programa diante da notícia de que o mesmo foi retirado da grade (ia ao ar após o fatídico Fantástico) por perder feio no Ibope para programas estúpidos de outras emissoras. Um nota curta e muito bem escrita. O que me chamou atenção foram os comentários em relação à nota. Tinha "de um tudo", desde ofensas à capacidade da atriz, à estrutura da Rede Globo etc. até a desqualificação do público que deixa de assistir ao seriado para assistir à programação empobrecedora de espíritos das outras emissoras.

Algumas opiniões (ou melhor seria dizer ataques) que diminuíam ou desconsideravam a capacidade intelectual das classes C, D e E, supostamente, então, feitos por alguém da classe B ou A - que deveria ter critério, educação e capacidade intelectual para redigir um bom texto - eram tão mal escritos que fiquei me perguntando se essas pessoas têm algum senso de auto-crítica ou se realmente sua soberba as torna tão cegas de si mesmas a ponto de ignorar o que dizem. Porque só um ignorante, sentido estrito, consegue dizer aquelas barbáries sem se tocar das bobagens que estão perpetrando. Além do teor preconceituoso e desinformado das opiniões, há verdadeiros achaques à língua.

Aí, mais uma vez, penso que preciso dar o meu palpite infeliz. Será que não seria hora de entendermos - todos nós, sociedade brasileira - que todos os problemas sociais que sofremos, em todos os extremos cardeais de nosso país, decorrem exatamente da falta de uma educação de qualidade? Uma educação que de fato ensine as crianças não só a ler mas a refletir sobre a sua leitura, a pensar criticamente desde o início, valorizando sua compreensão do mundo e seu caráter mutável? Que as ajude a compreender seu papel social, político, histórico no mundo? Porque educação de qualidade é algo que fará bem a todas as classes, tanto àquelas que, tendo podido pagar por uma boa educação, continuam se expressando mal em comentários feitos nos jornais eletrônicos (e em várias outras instâncias da vida pública e privada), quanto àquelas em que seus membros, desde cedo alijados de seus direitos por uma política branca e mesquinha, não conseguem chegar a aprender a escrever por falta de opções (de escolas, educadores, políticas corretas de ensino etc).

Até quando colocaremos a culpa nos outros e, refestelados em nossa "zona de conforto" (como diria um cínico professor de uma grande universidade de São Paulo), continuaremos ignorando todo o contexto social enquanto isso nos favorecer a nós particularmente? Quando iremos aprender a, de fato, pensar coletivamente - o que não quer dizer como um rebanho? Pensar coletivamente é pensar no que pode beneficiar não apenas uma minoria (seja ela qual for), mas a maioria. É pensar em divergir, mas respeitando a opinião e as crenças do indivíduo. É pensar que aquilo que for feito agora terá repercussão no futuro e que não importa se os resultados não serão vistos por nós, que realizamos nossos atos agora, mas pelas gerações que estão no porvir, que estão na possibilidade de vir a existir. Que mundo queremos para nós? Melhor, certamente, com mais oportunidades, mais igualdades, mais respeito e dignidade. Quanto fazemos para que esses sejam bens inerentes à todos? Muito pouco, ou mesmo nada. Enxergamos nossos benefícios imediatos, não importa se eles representam malefícios futuros.

O homem, infelizmente, não aprende com o próprio homem. Ao contrário, vai esquecendo sistematicamente as lições. Como pensar em passar algo adiante?

Essa postagem fica incompleta. Volto ao tema depois.