20 de jan. de 2010

Reflexões sobre São Paulo I

Todos os dias, ao sair do trabalho pelo estacionamento, olho para o céu. Na minha São Paulo de horizontes verticais espanto o cinza e o cansaço do cimento olhando o arranjo fugidio de formas e luzes que se desenham na noite do horário de verão. Lembro dos quadros de Turner e suas transparências luminosas e etéreas e por segundos o peso do dia longo e exaustivo se desfaz. Tempo suficiente para uma rápida e profunda tomada de ar para poder prosseguir.

Mas basta chegar à rua para que o mundo real bata em minha cara: na minha São Paulo da pujança econômica há uma pujante miséria humana. Fantasmas de seres humanos amontoam-se e distendem-se pela praça com seus olhos cavados de delírio e desprezo. Nossa indiferença lhes é indiferente. Será? Não posso conceber que seja. Diariamente nos recusamos a reconhecer aquele indivíduo que perdeu sua individualidade a ponto de não poder nem contar como número em dados estatísticos. Ok, perderam-se nas drogas, no crime. Mas por quê? Complicada pergunta, mais ainda a resposta. São pessoas que se entregaram ao medo, ao desespero, e se encontram abandonadas de si mesmas.

(continua)

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