26 de ago. de 2010

Diário de viagem - um pouco de reflexão antes do fim...

Parece, enfim, que as férias estão acabando. Apesar da saudade, devo confessar que não queria voltar. Principalmente depois de ter visto Dublin... Vai ser muito difícil voltar para a realidade depois de ter visto tanta beleza. Mais do que em Londres, eu moraria facilmente em Dublin.


Bem, não sei se já é hora de fazer um balanço, mas posso dizer sem medo de errar que foram as melhores férias da minha vida. Nunca imaginei que conseguiria fazer tanto. Mas fiz. E tenho como provar a mim mesmo. É uma sensação muito boa, pois é a primeira vez que cumpri uma "resolução de ano novo". Eu prometi a mim mesmo, no fim do ano passado, que este ano eu viria para Londres, de qualquer jeito. No fim, foi muito mais. Estou feliz, e muito orgulhoso de mim mesmo.

Quando eu estava olhando o mar da Irlanda, em Dalkey, dois dias atrás, tive uma crise de choro, algo muito forte aconteceu: larguei os grilhões - pela primeira vez na vida me senti livre, livre como nunca sonhei ser possível. E pude finalmente dizer a mim mesmo: eu mereço. Pode parecer ingênuo, mas fez uma grande diferença para mim, jogar fora tantos anos de condicionamento "negativo", achando que eu não merecia conquistar vitórias, por menores que elas fossem. Pela primeira vez o mundo ficou do tamanho certo,nem menor nem maior do que eu pensava. O mundo é real.
 
Nessas férias encontrei pessoas de diferentes nacionalidades, diferentes culturas, mesmo quando eram do mesmo país, e em cada uma pude perceber um ponto de contato, um traço de humanidade que nos proporciona a dimensão exata da igualdade. Todos temos nossas idiossincrasias, nossos medos, nossas angústias, algumas muito particulares e individuais, e outras mais "universais". Existem pessoas apaixonadas e apaixonantes em todos os lugares. Com cada uma delas aprendi um pouco mais sobre mim mesmo.
 
Cada pessoa que encontrei e com quem conversei fez alguma diferença em minha vida: as colegas de curso da Espanha, do Japão, da China; os professores ingleses; o português que gerencia a cantina universitária e seu funcionário espanhol; a eslovena da Le Pain Quotidien de Tottenham Ct Rd, a pós-adolescente irlandesa que me confirmou que confirmou que eu estava na plataforma certa para pegar o trem para Dalkey e com quem conversei durante todo o trajeto; o senhor na praia de Killiney que me falou sobre Paulo Freire, distribuição de riquezas e desigualdade social na Irlanda; o jardineiro de um serviço social ao lado da St Pancras Station, que atua em um projeto do governo para pessoas com diferentes graus de problemas mentais (ele foi aposentado prematuramente da Marks and Spencer devido à depressão provocada pelo assédio moral de uma gerente - depois de 20 anos de trabalho); o atendente de olhos azuis e voz de baixo profundo da Royal Watercolour Society, que me falou de sua experiência no aprendizado da língua alemã; Thibault, o francês da Córsega, dono do bed & breakfast em South Ealing, onde estou passando as últimas horas de minha estada em Londres.
 
Cada uma dessas e tantas outras pessoas com quem cruzei por aqui fez a mágica de transformar profundamente, e imperceptivelmente, a minha vida. Pois tudo poderia ter sido (e certamente teria sido) completamente diferente se eu não os tivesse conhecido.
 
Pode ser que tudo que eu esteja falando aqui seja uma grande bobagem, mas faz sentido, muito sentido, para mim. Não sei se poderei fazer uma viagem como essa de novo (mas vou trabalhar bastante para conseguir), mas se não der, estou feliz. Olhando para trás, para a escola municipal onde cursei a quarta série em Santa Margarida, bairro esquecido do remoto distrito de Campo Grande - Rio de Janeiro -, vejo que havia todas as condições para que a minha trajetória fosse totalmente diferente. Mas cheguei mais longe do que jamais aquele garoto de 11 anos sonhara chegar quando terminou a quarta série do primário.
 
Só uma coisa não mudou: a capacidade de maravilhar-se com a vida. Espero continuar enxergando as coisas com os olhos daquele menino, porque ele me ensinou coisas muito interessantes sobre mim e o mundo.
 
O diário vai continuar depois, com mais fotos de Dublin, mas muito poucas de Londres, pois, como disse, o verão acabou: a chuva veio para ficar, embora sem muito frio. E estou fazendo o possível para espremer minha bagagem em duas malas... mas já tive que comprar outra mochila...

3 comentários:

  1. Querido Flavio,
    He "leido" tu viaje por Irlanda,( I told you it was fascinating, wasn't it) Tengo que volver pronto porque las fotos que he visto me han recordado lugares que visité hace años....
    Cuídate y descansa un poco ahora.
    Estaremos en contacto, ok?
    Marta from UCL (SCEP 2010)

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