14 de jan. de 2011

Quebra-cabeças

Você seria capaz de ser amigo de alguém que é irritadiço, mal-humorado, reclamão, impaciente, um verdadeiro chato? Pois é, eu também não. O mais engraçado é que eu tenho amigos. Que gostam de mim apesar de eu me encaixar perfeitamente no perfil acima. É algo que foge completamente à minha compreensão. Mas passei do ponto de tentar entender. Hoje só aceito. Não faz sentido questionar as graças que a vida concede.

Meus amigos são meu oxigênio. Sem eles minha vida seria miserável e eu certamente seria muito mais ranzinza e rabugento do que já sou e, perto dos 50 anos, já estaria em uma clínica de repouso atormentando enfermeiros. Entretanto, cada vez que a vida resolve bater mais forte, o alívio vem sempre de um abraço amigo, tanto físico quanto emocional. Amigos ajudam a gente a não adoecer emocionalmente. São presentes. Aguentam nossas idiossincrasias mas conservam a saudável capacidade de nos mandar à merda ao menor sinal de que estamos ultrapassando os limites. A verdade que sai da boca de um amigo pode doer, e muito, mas sempre carrega em si a dose necessária de "semancol" que tanto necessitamos aqui e ali.

Não à toa dizem que os amigos são a família que escolhemos. Penso que eles nos deixam escolhê-los por ter nos escolhido antes. Não conquistamos os amigos; somos conquistados por eles.

Alguns ficam em nossa vida para sempre. Outros fazem parte dela por um tempo e depois se retiram, porque cumpriram seu papel e precisam seguir em frente confortando outros corações. Amo os dois tipos. Porque ambos sempre ensinam mais do que imaginamos ser capazes de aprender. Algumas amizades ficam "dormentes" por longos períodos, despertando apenas para nos socorrer de algum perigo iminente que nem imaginávamos estivesse para ocorrer - são como o Rei Artur que, diz a lenda, ressurgirá no momento em que a Inglaterra mais precisar de seu herói. Só que nossos amigos não são mitos. São reais e palpáveis. E nos ensinam sobre diferenças, diversidade, alegria, desapego, tristeza, respeito, afetos...

Descobri, com o passar do tempo, que meu coração não é um órgão inteiro, completo: é um quebra-cabeças. Cada amigo que me conquista é uma peça que se encaixa. Disse isso a duas amigas recentemente. Agora torno isso público. Obrigado a cada um dos meus amigos por tornarem meu coração mais completo.

10 de jan. de 2011

Biografia de um presidente - ou mais um comentário impertinente...

Ontem (domingo), passando pela vitrine de importante livraria de São Paulo, dei de cara com uma biografia dita "impecável" no cartaz de divulgação, do presidente americano, Barack Obama. Há pilhas e pilhas do livro na vitrine e me pergunto se conseguirão desovar tal quantidade dessa preciosidade...
Não duvido que o homem Obama tenha qualidades inegáveis que mereçam atenção e respeito. Afinal, numa sociedade ainda extremamente racista apesar de sua pretensa dedicação à democracia, ver a trajetória de um homem afro-americano do anonimato à presidência da mais imperialista das nações constitui fato inédito e digno de nota.
Entretanto, como político o presidente americano ainda não disse ao que veio. Depois de não conseguir implantar as várias medidas que havia prometido em campanha e de haver se comprometido, ainda que por manobras dos adversários, com ideias e ideais que estavam na contramão de sua visão política, fica difícil agregar à imagem do ser humano e cidadão a condição de bom político. Já havia sido precipitada (e extremamente oportunista) a concessão a ele, no início do mandato, de um Nobel da Paz - que se provou ainda mais equivocado e constrangedor com o passar do tempo. Agora surge uma biografia "impecável" de um homem que ainda não terminou de cumprir seu ciclo histórico-político.
Foi precipitação da editora? Não creio - é uma daquelas que publicam coisas interessantes e que mantêm qualidade editorial acurada. Seria, então, uma jogada de marketing para atrair um certo nicho de consumidores que se encontram "alinhados" com a nova (velha) direita linha-dura e que se concentra numa certa faixa (restritíssima) da população paulistana. Se for, creio que superestimaram as vendas: o volume em questão deve ficar encalhado na vitrine ou brevemente será econtrada por um terço do preço de loja em sebos do país, provavelmente junto de velhos livros de política ultrapassados e cuja única função é acumular poeira em prateleiras rente ao chão, onde ninguém se agacha para ver...
Problema de timing da biografia, e da editora brasileira que a lançou no mercado nacional...